Em maio de 2024, o Rio Grande do Sul viveu a maior tragédia climática de sua história. Casas submersas, famílias desalojadas, vidas interrompidas. Em meio ao caos, um movimento cultural se ergueu como resposta direta à omissão do Estado: o hip hop. Um ano depois, essa mobilização é eternizada na exposição “Reconstrução Hip Hop”, em cartaz no Museu da Cultura Hip Hop RS, localizado em Porto Alegre.
Mais do que uma mostra, a exposição é um testemunho. Um documento vivo sobre como o hip hop — muitas vezes marginalizado — foi protagonista de uma rede de solidariedade que arrecadou 300 toneladas de doações e mais de R$450 mil, conectando artistas, coletivos e entidades comunitárias. A exposição ocupa o segundo andar do museu e apresenta, por meio de documentos, fotografias e relatos, uma narrativa coletiva de resistência, afeto e reconstrução.
“A exposição foi uma junção de todo processo articulado e coletivamente criado pelo hip hop para uma rápida resposta à crise climática no Rio Grande do Sul”, explica Rafa Rafuagi, fundador e coordenador do museu. “Ela reúne os principais dados sobre quem recebeu doações, quem doou, e como o Museu foi um catalisador entre quem poderia ajudar e quem precisava de ajuda.”
O hip hop como força coletiva
A iniciativa nasceu em meio ao desespero, mas foi guiada por uma força antiga: a capacidade do hip hop de organizar o território, unir vozes e criar soluções de dentro para fora. Durante as enchentes, o Museu — fundado em 2023 como o primeiro da América Latina dedicado exclusivamente à cultura hip hop — se transformou em um dos principais pontos de arrecadação do estado.
A articulação com artistas do rap nacional, coletivos como o Rap in Cena e mais de 58 instituições em 14 cidades resultou em uma operação de apoio emergencial que, segundo Rafuagi, foi possível “pela credibilidade do Museu dentro da cultura e pelas pessoas que estão à frente desses projetos”.
Mas “Reconstrução Hip Hop” não se ancora na tragédia. Pelo contrário, a exposição propõe um novo olhar: o da potência coletiva. “Essa força foi o foco da exposição, que provou o poder de resiliência, empatia e solidariedade que há anos o hip hop tem nas comunidades brasileiras”, diz Rafa. “Ao mesmo tempo, também denunciamos a omissão do poder público, que não deu rápidas respostas, muito menos teve ações preventivas.”
Assim, o que se vê nas paredes do museu não é só história — é denúncia, celebração e projeto de futuro. A mostra evidencia como a cultura hip hop, ao transcender música, dança e grafite, pode propor caminhos concretos frente às crises sociais e climáticas do país. Como lembra Rafa, “essa exposição vai além de ser uma mostra cultural. É um caminho de futuro para a mudança da sociedade”.
Passado um ano do desastre, a exposição se torna ainda mais relevante. Ela não apenas reconta o que foi feito, mas propõe o que ainda pode ser construído. Para Rafa, o maior legado deixado pelo episódio é a unidade: “O maior aprendizado foi o poder da construção coletiva e do respeito às diferenças. Infelizmente, após a ação emergencial, nosso estado voltou a ser racista, machista e separatista. Mas durante aquele momento, todos se uniram por um bem comum”.
Serviço:
A exposição “Reconstrução Hip Hop” pode ser visitada de terça a sábado, das 9h às 12h e das 14h às 17h, na Rua Parque dos Nativos 545, Vila Ipiranga, em Porto Alegre. A visita pode ser livre ou agendada. Mais informações nas redes sociais do Museu da Cultura Hip Hop RS.
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