Um relatório parcial da Polícia Civil, referente ao inquérito que investiga irregularidades no patrocínio da empresa de apostas Vai de Bet ao Corinthians, revelou que parte do valor pago como comissão ao intermediário do contrato foi direcionado a contas associadas ao Primeiro Comando da Capital (PCC), uma das maiores facções criminosas do país.
Segundo apuração do SBT, confirmada pelo UOL, cerca de R$ 1,4 milhão, pago ao intermediário Alex Cassundé, circulou por contas suspeitas, conforme dados obtidos por meio da quebra de sigilo bancário. A Rede Social Media, empresa de Cassundé, repassou valores de R$ 580 mil e R$ 462 mil à Neoway Soluções Integradas, empresa considerada fantasma e registrada em nome de um laranja.
Em seguida, a Neoway transferiu R$ 1 milhão para a Wave Intermediações Tecnológicas. De acordo com o relatório técnico da polícia, essa movimentação representaria uma tentativa de “limpar” o rastro do dinheiro. A Wave então realizou três repasses para a UJ Football Talent Intermediação, somando R$ 874.150. A empresa representa diversos atletas brasileiros, incluindo Éder Militão, do Real Madrid.
A UJ Football foi citada no documento policial como “destinatária dos valores subtraídos do clube do Parque São Jorge”. A empresa é controlada por Ulisses de Souza Jorge e já havia sido mencionada anteriormente em uma delação ao Ministério Público de São Paulo (MPSP) como instrumento de lavagem de dinheiro ligado ao crime organizado.
O relatório técnico da Polícia Civil conclui que os envolvidos usaram estratégias clássicas de lavagem de dinheiro para ocultar a origem ilícita dos recursos, fracionando os valores em diversas operações para dificultar o rastreamento.
Em nota enviada, o Corinthians declarou que não comentará o caso por estar sob segredo de Justiça e reforçou que o clube não tem responsabilidade sobre valores que não transitam por sua conta bancária. A UJ Football não respondeu ao contato da reportagem até o momento.
A investigação também se conecta a uma delação feita por Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, empresário assassinado em novembro de 2023 no Aeroporto de Guarulhos. Em sua colaboração com o MPSP, ele apontou a ligação de agentes de futebol com o PCC, incluindo Danilo Lima de Oliveira, sócio da Lions Soccer Sports e representante de Emerson Royal em sua transferência ao Barcelona em 2021, realizada com participação da UJ Football Talent.
A delação também mencionou Rafael Maeda Pires, o “Japa”, apontado como integrante da cúpula do PCC e ligado à FFP Agency Ltda, empresa que representa atletas da Série A e da seleção brasileira. Japa foi encontrado morto em maio de 2023, em um edifício no Tatuapé.
O Ministério Público esclarece que os clubes e atletas não são investigados, mas sim os agentes e empresas responsáveis pelas negociações. As investigações continuam sob sigilo judicial.
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