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POP UP Festival encara briga pelo pop contemporâneo brasileiro e se situa no mapa dos festivais com força e identidade

Por Luan Nobat Depois de uma primeira edição realizada em 2023, que reuniu grandes nomes da música nacional como Pitty, Fresno, Lagum, Vitor Kley e vários outros novos artistas em Juiz de Fora, Minas Gerais, o anúncio da programação da segunda edição gerou um barulho estranho. No post com o cartaz que revelava as atrações, […]

Duda Beat no Pop Up Festival 2025

Por Luan Nobat

Depois de uma primeira edição realizada em 2023, que reuniu grandes nomes da música nacional como Pitty, Fresno, Lagum, Vitor Kley e vários outros novos artistas em Juiz de Fora, Minas Gerais, o anúncio da programação da segunda edição gerou um barulho estranho. No post com o cartaz que revelava as atrações, os comentários se dividiram entre pessoas extasiadas pelos nomes anunciados e outras muito frustradas, quase exercendo papel de hater. Afinal de contas: qual caminho deveria tomar o festival? Abraçar o mainstream, tão excessivamente prestigiado, repetido e desgastado, ou destacar ainda mais seu propósito de apostar no novo?

Nascido do antigo Bossa’n’Jazz, a mudança de nome não foi mera reconstrução de marca, mas sim uma reorientação de propósito. O POP UP Festival surge num momento em que o mercado da música brasileira apresenta nítidas saturações — inclusive de festivais. Diversas turnês de artistas de projeção nacional canceladas por falta de venda de ingressos e viabilidade econômica, artistas com números estrondosos na internet com dificuldade de encher pequenas casas de show Brasil afora, cachês superdimensionados e muitas outras questões que abririam abas intermináveis para esta resenha.
Fato é que, em sua segunda edição, o POP UP reafirma um compromisso difícil de bancar na era da pasteurização dos line-ups: já repararam como a maioria dos grandes festivais do Brasil parecem se reunir para selecionar os mesmos nomes para suas grades? Curadoria: palavra e conceito em desuso, mas não ali, neste grande palco montado em Juiz de Fora para apresentar ao público novos nomes da música brasileira e alguns dos destaques que temos no cenário nacional contemporâneo.

A abertura dos trabalhos ficou por conta da prata da casa, VARANDA, banda de um indie debochado e irreverente que prendeu a atenção da plateia, que aos poucos ia chegando. Com Mario Lorenzi (guitarra), Amélia do Carmo (voz), Augusto Vargas (baixo e voz) e Bernardo Merhy (bateria), a banda juiz-forana se destaca por fazer do despretensioso algo um tanto consistente. Na sequência, Luccas Carlos chegou com seu R&B romântico e sedutor, transformando a pista, ainda recebendo os primeiros espectadores do festival, em um baile soul de alta qualidade. Para quem é fã deste estilo e vive se esbaldando em artistas gringos, deem uma chance para a música nacional, porque há gente aqui fazendo algo nessas linhas com nosso tempero e molho — o que torna tudo mais saboroso.

Yoyô foi a terceira artista a subir ao palco dessa maratona sonora montada pelo festival para entorpecer de música as pessoas presentes — neste momento, a casa já ganhava mais corpos sedentos por performances vibrantes. E foi isso que aconteceu: com seu pop carismático, sexy e com referências oitentistas, do figurino às bases, Yoyô mostrou a que veio, defendendo seus potenciais hits e encantando o público. Dessa artista, vale ficar de olho em “Cherry”, baita pop song já disponível nas plataformas digitais.

Se você chegou até aqui (alguém lê textos longos e críticas de shows ainda?), vai perceber que o line-up deste festival não é feito como na maioria das vezes: posicionam-se os artistas com menor expressão de público nos primeiros horários e espremem-se os grandes na parte de cima da grade, com letras garrafais na divulgação e som gradualmente melhor para suas equipes. A missão de oferecer ao público novidade é levada a sério até nestas escolhas — parecem pequenas coisas, mas são elas que fazem total diferença. E foi com o mesmo palco, equipamentos e num belíssimo horário que Carla Sceno atacou. E que ataque! Já vi alguns shows da Carla, fomos colegas de selo e já dividimos palcos por aí. Posso assegurar que, de todas as suas apresentações, essa foi de longe a mais impactante. Nascida em Viçosa e atualmente radicada em BH, Carla é uma multi-instrumentista, cantora de voz potente e autora daquilo que canta. Seu show atingiu um estágio de maturidade que torna sua relação com a plateia um tanto quanto magnética. Sem dúvidas, um dos destaques do festival — e vale ficar de olho, pois em breve vem álbum novo por aí. Uma primeira pista já foi disponibilizada: “Tô por conta” traz a vibe noventista de um pop groovado e foi uma canção aplaudida com efusividade pelo público, que a esta altura já enchia a casa de shows.

Uma das apresentações mais aguardadas pelos fãs, Yago O Próprio chegou com seu carisma e repertório único para agitar de vez a plateia. Fico impressionado com seu timbre de voz e a forma como canta, trazendo emoção, verdade e uma dicção que permite entender cada sílaba proferida. Não posso fugir do fato de que admiro muito o trabalho deste artista e acompanho de perto seus passos, mas não é mentira dizer que ele carrega a competência de entregar ao vivo uma experiência dilatante dos seus trabalhos de estúdio. Vê-lo e ouvi-lo interpretar suas composições faz toda a diferença, além de ser realmente muito bom. O show contou com a participação do parceiro de longa data, Rô Rosa, no hit “Imprevisto”, um dos ápices desta apresentação e da noite como um todo.

Chegando já na reta final da programação: diretamente de São Gonçalo, Os Garotin. Aqui vou precisar conter os adjetivos e superlativismos, porque, para este que vos escreve, foi o ponto alto da noite. Que show fazem esses caras, meus amigos. Eles entregam tudo! Músicas incríveis que trafegam pelo território do soul, funk, jazz, com bons temperos da música popular brasileira, harmonias vocais precisas, arranjos arrojados e, ao mesmo tempo, com o frescor do pop — tudo isso embalado por passinhos envolventes e um carisma de enlouquecer. Se você não conhece, procure saber. E isso é só o que tenho a dizer.

O penúltimo show da noite veio do Rio Grande do Sul: a Flor ET, banda nova, mas com um pique brutal que já garantiu a eles uma rodagem de quilometragem considerável. Trazem um caldeirão sonoro que leva hardcore, forró, punk, fanfarra, psicodelia e muita diversão. A trupe tem um show que é a cara de festivais — especialmente estes que trabalham para apresentar novidades ao público. E, sim, caros leitores e programadores: esse público existe. Não duvide da capacidade do seu ouvinte em apreciar novas bandas e artistas. Formada por Ada Bellatrix (voz e saxofone), Daniel Ribeiro (baixo), Diego Vogt (teclas), Mário Ferreira (guitarra) e Rafa Zanette (bateria), os floreteanos tiram um som inominável, autêntico, no melhor estilo “afudê”.

E pra fechar o circuito, para beatificar (com o perdão do trocadilho) com seu pop contagiante, sintético, dançante, de sotaque pernambucano e muita ginga: Duda Beat. Com uma simpatia estonteante, a diva descarrilhou seus hits num público que nem parecia ter curtido horas de música. É de fato impressionante a quantidade de sucessos que ela traz em seu repertório e a força que eles exercem perante as pessoas. Nos bastidores, troquei uma ideia com ela e contei que vi o primeiro show que fez em um festival fora de Recife, o Transborda, na orla da Lagoa da Pampulha, lá pelos idos de 2018. De lá pra cá, assisti a algumas de suas performances ao vivo em festivais país adentro e pude acompanhar o desenrolar de sua carreira. Duda tem um show redondo, envolvente, montado pra levar a plateia a grandes momentos da sua história.

O POP UP deixa sua marca de vários sotaques, diversos estilos e um único propósito: servir de ponto de encontro para aqueles que se movem em prol da música. A região da Zona da Mata ganha muito, a cena brasileira também. Especialmente os ouvidos curiosos pelo que há de mais novo sendo feito por aí. Ficamos todos na expectativa pela próxima edição — e que ela venha com mais do novo, como fez por aqui, e não com mais do mesmo, como fazem por aí.



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