O que te move? O que você está caçando? E, mais ainda: o que você entende como recompensa? Essas perguntas atravessam as batidas e as rimas de Caça & Recompensa, novo disco colaborativo de OGermano e Matchola, que chegou às plataformas digitais no último dia 23 de julho.
O projeto é a junção de dois artistas de territórios distintos, mas com a mesma inquietação criativa: OGermano vem do Andaraí, subúrbio da Zona Norte do Rio, e Matchola, da Bahia, onde firmou sua identidade sonora entre o rap alternativo e a produção musical livre de amarras.
O encontro entre os dois deu origem a um álbum que mistura boombap clássico, samples carregados e respiros de MPB com um discurso lírico denso, metafórico e existencial. “Esse álbum vem pra mostrar quem somos e onde queremos chegar. É o nascimento de uma nova fase. Mais madura, mais ousada, mais autêntica”, explica OGermano. “Falamos sobre sonhos, objetivos, ambições sem nunca dizer o que é ‘a recompensa’ certa, porque cada um tem a sua. E esse mistério é o que torna o disco tão pessoal e universal ao mesmo tempo.”
A caça e a recompensa
Caça & Recompensa percorre caminhos internos e externos. Ao longo das faixas, o ouvinte é convidado a mergulhar em reflexões sobre trabalho, sucesso, equilíbrio e até espiritualidade. Mas tudo isso sem cair em respostas prontas: a força do disco está justamente na dúvida.
“A recompensa é um bagulho bem pessoal. Pra mim, viver da minha arte com tranquilidade, sem estresse, já é a maior recompensa que tem”, diz Matchola. OGermano complementa com uma visão íntima e desarmada: “Minha filha acabou de nascer. Estar com ela, com a minha mulher, fazendo um churrasco no fim de semana… Isso pra mim é o maior luxo.”
Essa autenticidade se estende para o som. O disco passou por três versões até chegar ao formato final. “A gente fez mais de 50 músicas. Começamos com uma ideia de trap com sample, depois fomos pra um boom bap anos 80, e aí jogamos tudo fora e começamos de novo”, lembra OGermano. “Eu tinha uma pressão pessoal de fazer algo foda, algo que superasse tudo que já fiz.”
Matchola reforça que, apesar das frustrações no processo, havia uma certeza em comum: “A gente estava satisfeito, mas sentia que ainda não era isso. E a gente foi até achar.”
Alter-egos e o preço de não se encaixar
A singularidade estética de Caça & Recompensa também nasce da liberdade artística que ambos os rappers exercem desde o início de suas trajetórias. OGermano, por exemplo, trabalha com alter-egos — entre eles OGermanin, que revisita a infância no subúrbio com humor e nostalgia.
“O alter-ego representa minha liberdade. É meu sonho artístico, porque posso falar de coisas que talvez eu queira ser, coisas que já fui, e não só o que eu sou hoje. Fico feliz que a galera esteja começando a pegar a visão de quem é o OGermano”, afirma.
Essa ousadia, no entanto, cobra um preço. “Tudo que eu faço ninguém vai entender”, rimam logo na primeira faixa. A frase resume a tensão entre o desejo de ser original e a dificuldade de se comunicar com um público acostumado a rótulos fáceis.
“Eu me sinto um pouco como Kanye West se sentia no começo, onde a galera não entendia a sonoridade dele e, com o tempo, descobriram a genialidade”, compara OGermano. Matchola segue no mesmo raciocínio: “Eu vim de um mundo ultra experimental. Tive que sair da zona de conforto pra me comunicar de forma mais acessível, mas sem perder a essência.”
O fim da caçada (por enquanto)
Apesar da sintonia evidente, a dupla já antecipa que Caça & Recompensa é um ponto de chegada — e talvez também de pausa. Depois de um ano inteiro de imersão criativa, OGermano e Matchola preferem deixar a parceria respirar.
“Já disse pro Matchola que não quero mais ver a cara dele”, brinca OGermano. “Mas falando sério, não pensamos em lançar outro disco juntos tão cedo. Quero continuar trabalhando com ele de outras formas, dentro do meu selo, a OGEF.”
Matchola concorda: “É bom dar um tempo pra não saturar a parceria. A gente tá há um ano juntos, foi intenso demais.”
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