O Centro Histórico de Salvador sempre foi mais do que um cenário na vida de Klisman — foi um personagem determinante na sua formação pessoal, artística e afetiva. É a partir desse território, com todas as suas contradições e potências, que o rapper baiano lança CHTC? (Centro Histórico Tá Como?), álbum de estreia que ressignifica suas vivências como um grito de identidade, resistência e pertencimento.
Composto por 13 faixas e participações de peso como Filipe Ret, Alee, Leviano e Scarp, o disco chega às plataformas digitais via NADAMAL como uma espécie de rito de passagem. Não apenas marca uma virada de chave na carreira de Klisman, mas também amplia as fronteiras simbólicas do que significa ser um artista nascido e criado fora do eixo Rio-São Paulo.
“O Centro Histórico é sinônimo de casa e abrigo pra mim. É onde o certo e o errado se misturam e vira questão de perspectiva”, explica o rapper, que cresceu imerso no caldeirão cultural e social dos 11 bairros que formam o coração antigo da capital baiana.
De um lado, as festas de rua, a musicalidade vibrante e a criatividade popular; do outro, o tráfico, a violência e a necessidade de se manter vivo. “Trouxe tudo isso para o meu álbum, que é um reflexo do que vivi no Centro Histórico, sejam as minhas dores ou as que presenciei”, completa.
Bordão que virou orgulho coletivo
Filho de artista e cercado de música desde a infância, Klisman carrega nas melodias e nas escolhas estéticas do álbum a bagagem de quem cresceu escutando R&B, pagodão e o axé das bandas de trio elétrico. “Minha mãe foi a grande responsável por abrir meu horizonte musical. Em casa ouvia de tudo: Ivete, Alcione, Belo e até Celine Dion”, relembra.
Não à toa, a sonoridade de CHTC? mistura o trap contemporâneo, com produções assinadas por nomes como Dallass e Neckklace, à cadência baiana, costurada com o “groove arrastado” do coletivo Os Químicos, referência direta às bandas como Fantasmão e Edcity, que embalaram sua infância.
O próprio título do disco é fruto de uma expressão que viralizou entre os jovens do centro: “CH tá lindão!”, criada por Klisman e um amigo, transformada em bordão nas ruas e nas redes sociais. Mais do que um meme, virou um símbolo de orgulho e pertencimento para quem, como ele, carrega o Centro Histórico no peito, com todas as suas marcas e belezas.
“Transformar tudo isso em música foi um processo de libertação”, define. Ao revisitar episódios dolorosos — como a ausência do pai e o conflito interno entre ser um bom filho e a tentação de se envolver com o tráfico — Klisman não esconde as contradições de quem cresceu entre limites tênues. “Por mais que esse disco seja baseado em histórias pessoais, acredito que muita gente vai se identificar.”
O íntimo e o coletivo
CHTC? também celebra a efervescente cena urbana de Salvador. Klisman se articula com nomes que compartilham de sua trajetória, como Alee — parceiro de sucessos como “Party” e “Pagão”, faixas que viralizaram e alcançaram mais de 8 milhões de streams — e Jovem Dex, com quem dividiu “Proibido Branco”, primeiro single do álbum.
“O Alee entende muito bem minha história e estética, então foi natural tê-lo no álbum. Já o Ret, quando o convidei, me disse que o Centro de Salvador tem a mesma energia do Rio — foi fácil pra ele desenvolver”, conta. Mais do que participações, as colaborações são costuras afetivas que ampliam o discurso do disco, reafirmando-o como uma obra coletiva, conectada às ruas, mas profundamente autoral.
O lançamento pela NADAMAL, gravadora criada por Filipe Ret, não poderia ser mais simbólico. Para Klisman, é o coroamento de uma relação que antecede até mesmo a formalização do selo. “Sou da NADAMAL antes da gravadora existir. Sempre estive próximo dos artistas dali, que enxergaram meu potencial. Entrar foi natural e muito importante, principalmente por ser um artista de fora do eixo”, diz.
CHTC? funciona como um marco zero na trajetória de Klisman. Um disco que, ao transformar as vivências do Centro Histórico em manifesto sonoro, consolida-se como documento artístico e social. “Acredito que o primeiro disco tem esse papel: narrar a história de um indivíduo até esse ponto. Lançá-lo é libertador em todos os sentidos”, define.
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