A Impala, associação que representa o setor independente na Europa, publicou um novo relatório criticando a proposta de aquisição da Downtown Music Holdings pela Universal Music Group (UMG), avaliada em cerca de US$ 775 milhões. A entidade sustenta que a operação trará prejuízos à diversidade cultural do mercado europeu, afetando diretamente a quantidade e variedade de lançamentos de selos independentes.
O documento, intitulado “Universal/Downtown – Why does it matter from a cultural diversity perspective?” (ou “Universal/Downtown – Porque importa de uma perspectiva de diversidade cultural?) foi elaborado com base em modelagem econômica conduzida pela professora Amelia Fletcher e submetido à Comissão Europeia, que atualmente analisa o caso em uma investigação de Fase II.
Segundo o estudo, mesmo uma pequena redução de receita para os selos independentes poderia causar uma queda considerável no número de novos lançamentos, comprometendo a renda de artistas e a representatividade de músicas em diferentes idiomas e estilos.
Setor independente teme concentração excessiva
Para a Impala, a compra da Downtown pela UMG representaria mais um passo na concentração de mercado das grandes gravadoras, reduzindo a competitividade e a capacidade de investimento dos selos menores. A entidade observa que os independentes são responsáveis por mais de 80% dos novos lançamentos na Europa, atuando como principais impulsionadores da descoberta de novos artistas e gêneros.
O relatório enfatiza que essa perda de pluralidade afetaria especialmente os mercados locais, onde os selos independentes são essenciais no desenvolvimento de músicas em línguas nacionais e na promoção de cenas musicais regionais. “As gravadoras independentes sempre foram as promotoras da diversidade cultural e as defensoras da nova música”, afirma o texto.
Segundo a Impala, o impacto da aquisição sobre a diversidade artística é parte da avaliação de concorrência da Comissão Europeia e deve ser considerado sob os princípios do tratado da União Europeia e da Convenção da Unesco sobre a Diversidade das Expressões Culturais.
A resposta da Universal
Em comunicado enviado à imprensa, o Universal Music Group classificou a análise da Impala como “inexata e enganosa”. A empresa afirma que já enfrentou alegações semelhantes sobre a participação de mercado em outras ocasiões e as refutou publicamente.
“A IMPALA continua a promover análises de suas afiliadas que são inexatas e enganosas. A UMG tem um compromisso de longa data com a diversidade cultural na Europa e valoriza o papel vital do setor independente. A combinação entre a Downtown e a Virgin Music fortalecerá os serviços disponíveis para as gravadoras independentes, apoiando seu crescimento e contribuição para o cenário cultural europeu”, declarou um porta-voz da UMG ao site Music Business Worldwide.
A Universal acrescentou ainda estar confiante de que a Comissão Europeia reconhecerá os benefícios da transação para artistas, selos e a música independente no continente.
“É uma questão de equilíbrio”, diz Helen Smith
A executiva Helen Smith, presidente da Impala, defende que a discussão não é sobre oposição às grandes empresas, mas sobre o equilíbrio de forças dentro do ecossistema musical.
“É uma questão de equilíbrio. Grandes empresas são importantes e a colaboração também, como mostra o projeto conjunto de licenciamento de IA com o Spotify”, afirmou.
“Ao mesmo tempo, foram levantadas preocupações sobre a saúde do mercado digital e do ecossistema, caso o líder tenha permissão para se tornar grande demais. As conclusões apontam para o risco de o setor independente perder receita como resultado disso, o que significa menos lançamentos e menos diversidade”, completou Smith.
Campanha e investigação continuam
O relatório integra uma ofensiva mais ampla da Impala contra a aquisição, que inclui a campanha “100 Voices”, lançada no início de outubro, reunindo executivos e representantes de selos independentes como Beggars, Secretly Group e Exceleration Music. O movimento busca pressionar a Comissão Europeia a bloquear o acordo.
A investigação do órgão europeu teve início ainda em 2024, após o Virgin Music Group, divisão da UMG, anunciar a intenção de compra da Downtown. As autoridades expressaram preocupação de que a transação possa permitir o acesso da Universal a informações comercialmente sensíveis de empresas do grupo Downtown, como FUGA e Curve Royalty Systems, que prestam serviços de distribuição e gestão de royalties a diversos selos.
O prazo inicial para decisão da Comissão, previsto para 10 de dezembro, foi suspenso até que informações adicionais sejam apresentadas, sem nova data definida. Enquanto isso, cresce o debate sobre os limites da concentração no mercado musical europeu e o papel das grandes corporações na manutenção da diversidade artística.
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