Gabriel O Pensador marcou uma geração ao lançar seu elogiado disco Quebra-Cabeça em 1997.
A obra, que apresentou ao público sucessos como “Cachimbo da Paz”, com participação de Lulu Santos, “2345meia78” e “Pra Onde Vai?”, foi tocada na íntegra durante o show do rapper veterano no Festival Clássicos do Brasil, realizado na Marina da Glória no Rio de Janeiro, no último final de semana.
Em conversa com o TMDQA! antes de sua performance, o Pensador compartilhou algumas reflexões sobre o icônico álbum e ainda destacou a importância da obra na cena do rap brasileiro:
“Esse álbum foi muito importante não só na minha carreira, mas para abrir mais portas ainda para o rap no Brasil. […] Todo mundo começou a procurar mais rappers para as suas programações e para os seus elencos, porque viram a força do gênero. Então, eu tenho muito orgulho desse trabalho por isso também. E pra nossa carreira mesmo, para mim e para todos os meus parceiros, é sempre um prazer celebrar esse álbum.”
O artista ainda relembrou o processo de criação do disco, revelando quando alguns clássicos do álbum foram criados, e comentou sobre o público que tem marcado presença em seus shows.
Vale lembrar que o Festival Clássicos do Brasil segue com sua programação nos dias 18 e 19 de outubro, com shows de Capital Inicial, IRA!, Edson Gomes, Ponto de Equilíbrio e mais celebrando álbuns icônicos.
Você pode garantir seu ingresso clicando aqui e, logo abaixo, leia a conversa na íntegra com Gabriel O Pensador!
TMDQA! Entrevista Gabriel O Pensador
TMDQA!: Como foi revisitar o “Quebra-Cabeça” para tocá-lo na íntegra no festival? Que tipo de sentimentos esse retorno despertou em você?
Gabriel O Pensador: Esse álbum foi muito importante não só na minha carreira, mas para abrir mais portas ainda para o rap no Brasil. A gente já tinha feito esse primeiro trabalho de mostrar o hip hop pra massa, com o primeiro álbum e uma cultura que ainda era mais underground aqui no Brasil. E o meu primeiro álbum já foi uma primeira chegada forte assim do rap nas rádios, na TV.
Depois eu lancei o segundo disco que não foi tão forte assim o resultado na mídia e o terceiro que surpreendeu é que foi o que vendeu mais de 1 milhão e que foi um marco muito grande para o hip hop e as gravadoras e as rádios. E todo mundo começou a procurar mais rappers para as suas programações e para os seus elencos, porque viram a força do gênero. Então eu tenho muito orgulho desse trabalho por isso também. E para nossa carreira mesmo, para mim e para todos os meus parceiros é sempre um prazer celebrar esse álbum.
E ele está sempre presente nos shows com algumas músicas. Mas nesse a gente vai ter a oportunidade de acrescentar algumas outras para poder fazer o álbum quase na íntegra e a gente vai curtir muito esse show. Sobra tempo para a gente fazer outros ritmos, porque o show dura 01h30, é uma duração mais longa do que a duração do próprio álbum. Mas o foco todo é o “Quebra-Cabeça”. A gente começa o show, faz todas as músicas do “Quebra-Cabeça” primeiro e depois eu acrescento mais algumas coisas. Então a gente vai curtir muito. E eu já fiz uma turnê semelhante quando a gente comemorou os 25 anos desse álbum.
TMDQA!: Conta um pouco sobre o processo de produção e gravação do álbum. As faixas já existiam antes do estúdio, ou o disco foi sendo construído ali, durante as sessões?
Gabriel O Pensador: Sobre o processo de produção e gravação é muito bom lembrar das pessoas que foram importantes nesse trabalho, começando pelo André Gomes na pré produção, que é um produtor que está presente na minha carreira em várias outras fases também. Um grande músico, baixista, virtuoso, grande amigo e que foi o parceiro inicial dessa primeira parte de criação. A primeira fase de criação das músicas para o meu terceiro disco que eu estava preparando ainda não tinha nem nome. E aí eu apresentei lá na gravadora e Jorge Davidson ainda estava como diretor artístico. Me deu uma pilhada para continuar compondo porque achava que ainda poderia. Para segurar a ansiedade. E foi uma dica boa também, porque dali, depois dessa primeira reunião, eu ainda fiz muitas outras músicas que ainda não estavam nessa primeira demo. Assim, “Cachimbo da Paz”, “Pra onde vai?”, “2345MEIA78”. Então músicas importantes que vieram ainda numa segunda etapa e de pré produção, e aí sim, quando eu tinha um repertório mais pronto assim para ir para o estúdio, para o estúdio principal, é que eu fui começar o trabalho com o Memê e ali, ainda durante esse encontro com o Memê, a gente ainda cria coisas durante o processo e ainda surgem novas ideias. E o Memê foi muito importante na estética sonora e na identidade sonora do álbum.
A gente tava usando os samples de uma forma inovadora aqui também. Além dos feitos que vocês perguntaram aqui na próxima pergunta, era uma coisa que o brasileiro não fazia muito. O rap com uma mistura de outros gêneros, com melodias nos refrões. E a gente misturou muito bem os samples com os grandes músicos participando também e tocando junto com com bases ampliadas, tocando por cima dos tempos.
E foi um trabalho muito criativo, muito bem executado, com a produção do Memê e a participação de excelentes músicos e todos os convidados. Então aqui eu não vou me alongar citando os nomes, mas tem muita gente boa envolvida e foi um prazer fazer esse trabalho junto com essa galera.
TMDQA!: Recentemente, Toni Garrido comentou no Altas Horas sobre a possibilidade de atualizar a letra de “Girassol”. Com a cabeça de hoje, olhando para o álbum de 1997, há alguma faixa cujas letras você sentiria vontade de adaptar ou reinterpretar?
Gabriel O Pensador: Esse álbum tem faixas que estão muito vivas aí, com uma garotada que não tinha nem nascido na época, se identificando com as letras e com as ideias e com os temas e com o som. É bem interessante observar isso e normalmente eu não me preocupo em ficar corrigindo, alterando letras para adaptar. É porque a gente também sabe que certas expressões ou certas metáforas podem ter a ver com o contexto da época, da sua época, em que foram gravadas.
Mas tem um detalhe só que, já que vocês perguntaram o que eu mudaria na música, no “Cachimbo da paz” e eu falava “acordou com um travesti e assassinou o coitado”. E hoje eu canto “acordou com uma trans e assassinou a coitada”, o que é só uma correção de português e de como hoje a gente já sabe o que é o correto. Falar no gênero feminino. Mas fora isso, não me lembro de nada não.
TMDQA!: Depois de tantos anos, como você imagina que o público vai reagir a esse reencontro com o Quebra-Cabeça? Você tem recebido feedback das novas gerações sobre o álbum?
Gabriel O Pensador: A gente não tem muito essa sensação de curiosidade de como o público vai reagir. Porque ele já tá acompanhando sempre muitas faixas desse álbum nos meus shows e na minha turnê atual, que é a turnê do “Antídoto para todo Tipo de Veneno”. No meu último álbum, ela inclui quatro ou cinco músicas do “Quebra-Cabeça”, então a gente já sabe que a reação é boa. Já tem essa coisa muito viva, muito presente. Não tem esse clima de nostalgia na nossa interpretação. De como as pessoas recebem essas músicas porque elas estão aí, bem vivas.
Mas nesse show especificamente, a gente vai ter um pouco esse espírito de nostalgia da própria plateia, porque todo o conceito do clássicos e do reencontro, e a gente vai acrescentar outras faixas e vai ter outros artistas com discos que estão sendo lembrados. Então isso vai ser interessante a gente observar a vibe da galera, que eu acho que inclusive até vai ter um público que possivelmente não tem ido tanto aos meus shows e vai nesse porque é uma galera que vai estar lá atraída justamente por esse caráter nostálgico desse festival. Então isso pode ser bem interessante, vamos sentir lá na hora.
Mas o que eu tenho visto nos shows e no dia a dia assim é uma mistura de gerações no público. Tem uma galera nova, mas tem alguns fãs de sempre que já acompanham há mais tempo e aí são reações variadas. Tem uma molecada nova que se empolga muito com o “Retrato de um playboy”, com “2345MEIA78”, com músicas que hoje viralizam no Tik Tok. E tem outros que pedem aquelas músicas mais lado B, que são aqueles fãs mais raiz mesmo e que às vezes pedem músicas que a gente nem tem no repertório no show. Então esse é o meu público, ele é bem eclético e acho isso legal. A gente vai ver, vai saber na hora lá como é que vai ser o público do festival.
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