33 anos se passaram desde que um jovem de São Conrado resolveu rimar contra o presidente. De lá pra cá, Gabriel, o Pensador deixou de ser apenas uma figura polêmica para se consolidar como um dos nomes mais importantes da história do rap brasileiro — ainda que, desde sempre, tenha transitado pelas margens e pelos centros, pelas ruas e pelos palcos de auditório, sem nunca perder o senso crítico que o impulsionou desde o início.
No dia 3 de dezembro de 2025, ele celebra essa longa caminhada com um show especial na Fundição Progresso, no Rio de Janeiro. O espetáculo marcará a gravação de um novo DVD e a abertura de uma turnê comemorativa. O evento, porém, será mais do que uma simples retrospectiva: será uma releitura, uma reinvenção.
Gabriel, o Pensador promete um espetáculo acústico com novos arranjos, metais, coros e beats, misturando camadas que revisitam seus maiores sucessos e anunciam novas faixas. Entre os convidados, nomes consagrados como Lulu Santos, Armandinho e, pela primeira vez ao seu lado num registro oficial, Mano Brown.
Da censura ao sucesso
É impossível falar de Gabriel, o Pensador sem lembrar que sua estreia foi marcada por um gesto radical. Em 1992, lançou o compacto “Tô Feliz, Matei o Presidente”, um ataque lírico ao então presidente Fernando Collor, prestes a sofrer um processo de impeachment.
A música foi censurada pelo Ministério da Justiça, sob a alegação de incitação ao assassinato. Mas o que parecia o fim foi, na verdade, o início. A comoção provocada pela censura chamou atenção da Sony Music, que decidiu contratá-lo. Nascia ali não só um artista, mas uma personalidade cultural que mesclava o rap com a sagacidade jornalística herdada da mãe, a jornalista Belisa Ribeiro.
“Eu fui censurado antes mesmo de lançar um disco. Fui bater nas rádios, nas gravadoras, só com as letras na mão. Muita gente que nem curtia rap se amarrava. Eu queria sair da bolha, mas sempre levei o rap comigo”, lembra Gabriel. Com seu disco de estreia, que também trazia “Lôra Burra” e “Retrato de um Playboy”, ele começou a construir uma base sólida que não só o consagraria como artista, mas abriria espaço para outros nomes do rap brasileiro nas rádios e nas gravadoras.
Ao longo dos anos 1990 e 2000, Gabriel empilhou sucessos com naturalidade. Enquanto o rap ainda era um território marginalizado, ele falava abertamente sobre temas como legalização das drogas, juventude periférica, aborto, racismo e violência policial. “Eu ouvia muito Public Enemy, Bob Marley, Peter Tosh. Tinha essa sede por transformação. E o jornalismo também me deu coragem”, conta.
Essa coragem, aliás, custou caro: ele trancou a faculdade de Comunicação na PUC-Rio para lidar com a repercussão da censura e seguir sua luta contra a proibição da música nas rádios. Mas foi essa mesma inquietude que o fez não se acomodar nem com o sucesso. Mesmo após vender mais de 1,5 milhão de cópias com o álbum Quebra-Cabeça, Gabriel continuava propondo experimentações e debates públicos, inclusive fora do Brasil.
Ëu fiz uma viagem para Portugal e houve um encontro com rappers locais no bairro da Lata. Lá eles mês relataram que já estavam pensando em parar de gravar em português porque não haviam oportunidades, mas quando tocou meu disco lá, eles viram que tinha um horizonte”, lembra.
33 anos de Gabriel, o Pensador
Com mais de três décadas de carreira, Gabriel ainda prefere criar. Seu novo projeto audiovisual não será apenas um revival acústico, mas uma oportunidade de, como ele mesmo diz, “misturar camadas” e dar novas formas às mesmas ideias.
A apresentação na Fundição Progresso contará com a presença de dez convidados — entre eles, Mano Brown, com quem Gabriel dividirá pela primeira vez uma faixa registrada oficialmente. “Já dividimos o palco de forma improvisada antes, num show dele com o Criolo. Agora vai ficar gravado. É muito simbólico”, diz.
Além do peso simbólico, o encontro marca uma reconexão entre vertentes do rap brasileiro que muitas vezes seguiram caminhos distintos, mas que agora se unem para celebrar uma história comum.
O show também terá músicas inéditas, que, segundo Gabriel, nascem de um lugar de empolgação criativa. “Eu sigo me arrepiando no palco. Essa nova roupagem reacendeu ainda mais o meu entusiasmo. É uma celebração, mas também um novo capítulo.”
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