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No último sábado (12), data que marcou a primeira celebração oficial do Dia Nacional do Funk, o Museu de Arte do Rio (MAR) foi tomado por uma atmosfera de festa, memória e afirmação cultural. Com entrada gratuita e programação diversa, o evento promovido pela Kenner reuniu nomes como Tati Quebra Barraco, MC Nem, DJ Iasmin Turbininha e FBC, que aproveitou o momento não só para subir ao palco , mas também para soltar o verbo em uma entrevista exclusiva ao RapMais.
Com a vista da Praça Mauá ao fundo, o artista mineiro falou sobre a importância simbólica de ver o funk ocupar espaços considerados “nobres”, como museus, passarelas e galerias. “Se o funk tá aqui, é porque alguém do outro lado tá perdendo dinheiro”, dispara FBC. “O nosso capital é humano. Vem da vivência, da arte de sobreviver”.
O rapper também refletiu sobre o processo de apropriação cultural que o funk vem sofrendo nos últimos anos, ao mesmo tempo em que é perseguido e censurado por instituições, também é replicado por artistas brancos, gringos e marcas que tentam capturar sua estética. “O imperialismo faz isso: pega, apaga e toma como verdade. E o Brasil, se não ficar atento, vai ver o funk ser contado por quem nunca viveu a favela”.
FBC também comentou sobre a relação pessoal com o gênero. Criado em Belo Horizonte, ele lembra dos primeiros sons que o marcaram, como “Eu Só Quero É Ser Feliz” e os hits do Bonde do Tigrão. “Funk é primo do Rio. É memória afetiva, é meu irmão cantando, minha irmã dançando. É saudade e identidade ao mesmo tempo”, contou.
O evento da Kenner no MAR reforçou esse compromisso de resgate histórico e valorização. Além dos shows, teve aulão de passinho com Pablinho Fantástico, feira literária com autores da periferia, e um talk show com Tati Quebra Barraco mediado por Michele Miranda, autora do livro Funk Delas. Para FBC, o papel do artista vai além do palco.
“Se o artista trata arte só como negócio, ele não é artista. É empresário. A arte que vem da favela é luta de classes. É memória dos que já foram, dos que vieram antes de mim e não conseguiram… A arte é o que carrega a quebrada. É o que mantém a nossa identidade viva”.
Entrevista exclusiva: FBC no Dia Nacional do Funk
Qual é a sua relação pessoal com o funk?
Minha relação é de lembrança. Saudade do meu irmão cantando, da minha irmã dançando. Funk é um parente, um primo que veio do Rio. Sempre fez parte da minha vivência, da minha memória afetiva.
Você lembra qual foi o primeiro som de funk que te marcou?
Acho que foi “Eu Só Quero É Ser Feliz”. Depois vieram Cidinho e Doca, e o Bonde do Tigrão. Lá em BH a gente curtia mais o Miami Bass, o eletro. Os MCs de lá foram formados nessa base.
Hoje o funk é criminalizado, mas também copiado até por gringo. Como você vê essa contradição?
Na arte, a contradição é natural. Mas o problema é quando a globalização do funk apaga quem construiu essa história. A gente precisa manter viva a memória dos mestres e mestras que fizeram o funk chegar até aqui. Porque o imperialismo muda o sentido das coisas, toma pra si e transforma em verdade.
Qual a importância de marcas como a Kenner olharem pra quebrada como referência cultural, não só mercado?
A Kenner tem feito uma contrapartida real. Eles olham pra quem realmente calça, pra quem realmente vive a marca. E isso precisa servir de exemplo pra outras marcas. Hoje é lucrativo vestir a roupa do cria, então que respeitem a nossa identidade e retribuam com ações concretas.
Você sempre falou sobre quebrada nas suas músicas. Qual o papel do artista no combate ao apagamento cultural?
O artista precisa fazer arte. Se trata só como negócio, virou empresário. Mas entendo quem tenta sobreviver. Eu mesmo sacrifiquei muita coisa da minha vida. Tanta gente foi melhor que eu, lutou mais que eu e não conseguiu. A gente tem que lembrar deles, de quem morreu só por ser quem é.
Por que ainda existe resistência ao funk em espaços como museus, passarelas ou a mídia tradicional?
Porque alguém tá perdendo dinheiro. Quando o funk ocupa esse espaço, o lado de lá sente. Mas do lado de cá, ninguém tá reclamando. O nosso capital é da vivência, é o capital humano. Sobreviver sendo quem somos já é arte.
Qual o impacto de ver o funk saindo da rua e entrando em museu, galeria, moda?
Me sinto parte. Há dois anos fui cantar baile em Paris, e o olhar das pessoas dizia tudo: pertencimento, orgulho, saudade. O funk já ganhou o mundo. Que a gente continue ocupando com verdade, sem deixar ninguém apagar a nossa história.
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