Quais foram os melhores discos do rap nacional no primeiro semestre de 2025? Com seis meses intensos de lançamentos, a cena entregou uma diversidade impressionante de discursos, estéticas e propostas sonoras. E antes que o ano avance ainda mais, decidi listar os 12 discos que mais me impactaram até aqui.
Em um momento em que muitos artistas ainda apostam na fórmula do algoritmo, buscando hits instantâneos e números inflados, essa seleção privilegia obras que caminham na contramão: projetos autorais, consistentes e com identidade bem definida. São trabalhos que, cada um à sua maneira, expandem as possibilidades do rap brasileiro e mantêm viva sua vocação artística e política.
Se o segundo semestre promete lançamentos de nomes como Tasha & Tracie, Ajuliacosta, Vandal e o próprio Racionais MCs, é seguro dizer que boa parte dos discos abaixo seguirá forte na disputa pelos melhores do ano. Porque não se trata apenas de hype, mas de qualidade!
12º – Teto – Maior Que O Tempo
Teto surpreendeu ao entregar um álbum dividido em dois atos bem definidos: de um lado, o trap carregado de sonhos e reflexões; do outro, uma imersão no R&B que revela seu lado mais sensível. Com produções que evitam o lugar-comum do gênero, o artista mostra maturidade ao buscar novas formas de se expressar sem abandonar sua identidade. Maior Que O Tempo se destaca por ser ousado e acessível ao mesmo tempo, ainda que peque em algumas colaborações pouco inspiradas. É, sem dúvida, seu trabalho mais bem resolvido.
11º – Kyan & Mu540 – DOIS Quebrada Inteligente
Kyan e Mu540 seguem como uma das duplas mais criativas da cena. Em DOIS Quebrada Inteligente, expandem a proposta do primeiro volume misturando funk, trap e eletrônica de forma engenhosa. O resultado é um EP que não apenas reafirma o poder criativo da periferia como também aponta para caminhos globais da música urbana. O conceito de “FRAP”, termo criado para definir essa mistura, traduz o espírito experimental do projeto, que se destaca tanto pelo vigor dos beats quanto pela inteligência dos versos.
10º – Babidi – Depois Que a Água Baixou
Ao transformar uma tragédia pessoal — a enchente que atingiu sua casa no Rio de Janeiro — em um disco de forte conteúdo social, Babidi cria um dos registros mais comoventes do ano. Depois Que a Água Baixou é um retrato sonoro da resistência periférica diante do racismo ambiental. Com produção refinada e participações que fortalecem o discurso, o álbum caminha entre a tristeza e a esperança com sofisticação rara, reafirmando o papel da música como documentário vivo da desigualdade brasileira.
9º – Ravi Lobo – Shakespeare do Gueto II
Ravi Lobo entrega um dos discos mais marcantes da história recente do rap baiano. Shakespeare do Gueto II apresenta o drill com um olhar autobiográfico potente, atravessado por memórias, lutas e ancestralidade. As rimas afiadas convivem com beats variados, da batida crua ao boombap e ao trap melódico, sem perder coesão. Com referências visuais e simbólicas que aproximam a arte da família, da religiosidade e da resistência coletiva, o disco afirma Ravi como uma das vozes mais importantes da cultura Hip-Hop no Nordeste.
8º – Djonga – Quanto Mais Eu Como, Mais Fome Eu Sinto!
Djonga retorna ao topo de sua forma em um álbum que abraça o experimentalismo sem perder a contundência. O disco expande a paleta sonora do artista com elementos de jazz, MPB e drill, enquanto as letras mergulham em temas como ego, religiosidade e pertencimento. Apesar de algumas colaborações aquém do esperado, o disco se destaca pela densidade de suas reflexões e pela entrega visceral do rapper. É um trabalho de transição, maduro e simbólico, que reafirma sua relevância após dois álbuns contestados.
7º – BK’ – Diamantes, Lágrimas e Rostos para Esquecer
Ao buscar na MPB a matéria-prima para um novo capítulo de sua discografia, BK’ entrega um disco introspectivo e sofisticado. Samples de Djavan, Evinha e Milton Nascimento são a base para um projeto que investiga perdas, saudades e reconstrução. As letras são mais sutis, a produção mais suave, e a experiência sonora, mais sensível. DLRE não busca impacto imediato, mas sim permanência emocional. Um disco de escuta profunda, feito para ecoar no tempo.
6º – Negra Li – O Silêncio Que Grita
Com três décadas de carreira, Negra Li lança um de seus álbuns mais corajosos. O Silêncio Que Grita é um manifesto musical onde rap, gospel, samba e blues se encontram sob uma mesma urgência: a de falar sobre racismo, gênero, amor e resistência com lirismo e firmeza. A artista não apenas canta, mas denuncia e acolhe. As colaborações são pontuais, as produções refinadas e a voz, como sempre, protagonista. Um disco que não grita por atenção: ele a exige.
5º – Serpente Sapiente – Manifesto Sepé / Apenas o Básico
Dois álbuns, uma só mensagem: resistir com verdade. Serpente Sapiente lança dois discos que se completam. Manifesto Sepé é um ataque frontal ao capitalismo e à opressão, misturando rap, punk e new metal com fúria e urgência. Apenas o Básico, mais contemplativo, aposta na rima nua e crua para narrar vivências sem filtro. Ambos foram gestados na Ocupação Sepé Tiaraju, em Porto Alegre, e funcionam como documento de um tempo e um espaço. Serpente é voz do subterrâneo: incômoda, vital, necessária.
4º – FBC – Assaltos e Batidas
FBC retorna ao rap com sangue nos olhos e beats que batem como soco. Inspirado pelo “bate cabeça” dos anos 90, o disco faz referência direta a Public Enemy, House Of Pain e Pavilhão 9, resgatando a veia de protesto sem cair no obsoleto. Pelo contrário: Assaltos e Batidas é atual, urgente, e tem a cidade como palco e personagem. Os versos inflamados, as produções sujas e a ausência de concessões tornam o disco um dos mais potentes da década.
3º – Rael – Onda
Onda é um passeio pela pluralidade da música brasileira sob a lente de Rael. Com colaborações de peso, o disco mistura trap, samba, R&B e reggae em uma costura cuidadosa e elegante. A produção sonora é limpa, precisa, pensada para destacar cada detalhe. Se falta uma identidade visual mais forte, sobra coesão e sensibilidade musical. Rael reafirma sua consistência com um álbum que equilibra acessibilidade e sofisticação como poucos. Como disse pra ele: é disco para concorrer ao Grammy.
2º – Stefanie – BUNMI
BUNMI é um marco histórico. O tão aguardado primeiro álbum solo de Stefanie é uma celebração da maturidade, da resistência e da sabedoria acumulada. Com produções de Daniel Ganjaman e Grou e um time impressionante de convidades, a MC entrega um trabalho que honra sua trajetória e inspira novas gerações. As faixas são autobiográficas sem serem panfletárias, densas sem perder a leveza. BUNMI é presente, herança e futuro do rap.
1º – Don L – CARO Vapor II – qual a forma de pagamento?
Don L mais uma vez reinventa a própria ideia de álbum. CARO Vapor II não é apenas uma sequência do clássico de 2013, mas uma declaração de intenção: propor uma nova escuta para a música brasileira.
Fugindo da estética importada, o rapper cearense aposta na brasilidade como linguagem revolucionária. Samba-jazz, funk, baião e bossa se encontram em samples reconstruídos, enquanto as letras caminham entre o onírico, o político e o filosófico. É um disco que rejeita o algoritmo e reafirma o sonho como arma.
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