Artista de nicho: pequeno pra quem?
Artista de nicho: pequeno pra quem?
Artista de nicho: pequeno pra quem?
Artista de nicho: pequeno pra quem?
Todo mundo já ouviu ou até já disse a frase: “ele é de nicho” como se fosse algo ruim. Falar dessa forma muitas vezes é ignorância de quem não sabe muito bem o que dizer sobre um artista talentoso que não está “em alta”. Muitos artistas de nicho têm uma base fiel, shows lotados (mesmo que em casas menores), discografia sólida e uma identidade bem definida. “É de nicho” virou sinônimo de “ninguém conhece”, quando na verdade o problema pode ser outro: ninguém quis conhecer.
No vocabulário corporativo da música, “nicho” é uma forma elegante de classificar artistas que não cumprem os requisitos da rádio pop, nem postam 5 TikToks por dia divulgando sua música ou fazendo alguma trend. Mas se a gente for técnico — e realista —, artista de nicho é aquele que fala com um público específico, mas profundamente conectado. E aí vai a ironia: esse público costuma ser mais leal, engajado e comprador do que o das grandes massas.
A palavra “nicho” deveria remeter à estratégia, não à escassez. Só que, na prática, muitos desses artistas são tratados como invisíveis pelo mercado, mídia e curadoria. Marina Sena, por exemplo, era chamada de artista de nicho quando lançou De Primeira. Só que o que ela fazia já era maior do que os ouvidos que estavam dispostos a escutar. O mesmo vale para nomes como Jup do Bairro, Rachel Reis e Rubel — que circulam entre prêmios, festivais e bolhas, mas constroem uma base com consistência.
Luedji Luna, por exemplo, é uma artista de nicho não por falta de qualidade, mas por escolhas conscientes. Sua sonoridade sofisticada, híbrida, e suas letras densas exigem escuta ativa do público. Luedji não adota uma linguagem “viralizável” nas redes nem se encaixa em narrativas que buscam agradar algoritmos. Sua estética visual, os clipes e até o modo como se posiciona são pensados como extensão artística da sua música — e não como um produto para consumo rápido.
Nos últimos anos, a pressão dos números, a comparação constante e a era da viralização fizeram com que os artistas buscassem quantidade — mas não necessariamente qualidade nesses números. Audiências pequenas e profundas podem vender mais merchandising, mais vinis e mais ingressos.
Plataformas e gravadoras seguem investindo em volume. Enquanto isso, os artistas que dominam sua microcultura fazem mais com menos. Constroem comunidade, conexão e valor de marca. Dá pra dizer que Yago Oproprio, Luedji Luna ou Lamparina são “pequenos”? Ou será que a régua está torta?
Agora fica a questão: o problema é o artista, o público ou quem escolhe o que a gente ouve? Talvez seja tudo isso junto. Tem artista que escolhe mal o próprio público, porque se força a ser algo que não é; tem público que consome só o que é entregue mastigado; e tem a indústria que, de um modo geral, fala dos mesmos 10 nomes há uma década e ignora a quantidade de artistas incríveis que sustentam a indústria “alternativa”.
O ponto é: quem sabe exatamente o que é, fala direto com quem escuta. O que falta, muitas vezes é interesse, não talento. Visão, não audiência. Se o mercado tivesse um pouco mais de paciência, talvez a gente parasse de tratar arte como apenas um produto de prateleira e artista de nicho como se fosse alguém que “ainda não deu certo”.
Spoiler: alguns deles já deram. Só não foi no feed de quem você segue.
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