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Thaíde celebra quatro décadas de rap com “Corpo Fechado, Mente Aberta”, um álbum sobre legado e evolução

Poucos artistas podem olhar para a própria trajetória e perceber que ela se confunde com a história de um gênero. Thaíde, aos 41 anos de carreira, faz isso sem precisar recorrer à nostalgia, mas com a naturalidade de quem nunca deixou de ser um dos pilares do Hip Hop brasileiro. Com o lançamento de Corpo […]

Thaíde

Poucos artistas podem olhar para a própria trajetória e perceber que ela se confunde com a história de um gênero. Thaíde, aos 41 anos de carreira, faz isso sem precisar recorrer à nostalgia, mas com a naturalidade de quem nunca deixou de ser um dos pilares do Hip Hop brasileiro.

Com o lançamento de Corpo Fechado, Mente Aberta, álbum que chega às plataformas nesta sexta-feira (23), o rapper reafirma sua essência artística ao mesmo tempo em que abre as portas para novas sonoridades e parcerias, atravessando gerações com a mesma potência de quando começou.

“Esse disco remete ao meu primeiro trabalho”, explica Thaíde, referindo-se à icônica “Corpo Fechado”, lançada em 1988 ao lado do DJ Hum. “A ideia é mostrar que sou o mesmo MC, o mesmo representante da cultura, mas com a mente expansiva. Quero irradiar e também captar, sem deixar a essência de lado.” O título, que parece simples à primeira vista, condensa uma filosofia de vida: a integridade inegociável, mas com a disposição permanente para o novo.

O propósito de Thaíde

Com 13 faixas que mesclam celebração, crítica social e homenagem às raízes negras, o álbum marca um retorno consciente de Thaíde à música, depois de anos focado na televisão.

“Eu me sinto vazio quando fico muito tempo sem exercer a função musical. Isso aconteceu quando estava muito focado na TV. Um dia, enquanto gravava uma matéria, uma pessoa me reconheceu e disse que esperava um novo disco e ‘ouvir as minhas ideias’. Isso abriu a minha cabeça para voltar a criar música”.

Thaíde nunca escondeu sua visão de que o rap deve ter, antes de tudo, uma mensagem. Logo na faixa de abertura, ele reafirma: o rap é “sobre quem tem algo a dizer”. Essa postura, que guiou sua trajetória desde os anos 1980, também aparece como crítica à banalização do gênero: “Ver pessoas usando o gênero de qualquer maneira me ofende muito. Não consigo normalizar isso. A música não é para o artista, mas para quem vai ouvir.”

Esse compromisso ético atravessa faixas como “Campo Minado” e “Pega a Visão”, que abordam o racismo sob perspectivas distintas, mas complementares. Na primeira, ao lado de Nego Max, Thaíde fala sobre a violência sistemática contra corpos negros: “Independente de onde o preto for, haverá perseguição, discriminação e assassinato”. Já em “Pega a Visão”, gravada com Djonga e a cantora lírica Negravat, a reflexão se volta à necessidade de união: “Se houvesse mais união, provavelmente haveria menos Campo Minado”, afirma.

Construção e legado

A participação de artistas da nova geração, como Djonga, é mais do que um gesto estético — é político. “Algumas conexões entre as gerações do rap não são fáceis como atravessar uma rua, parecem mais uma ponte. Existe, sim, um apagamento com quem criou e lapidou o movimento. É preciso lembrar da história que estruturou o hoje”, aponta Thaíde.

Outro tema central do álbum é a valorização da identidade nacional dentro do rap. Desde o seu primeiro disco, em 1989, Thaíde escolheu abrasileirar sua música, e segue fiel a essa escolha: “O rap brasileiro é o único no mundo que se usa pandeiro, berimbau, triângulo, pode misturar com carimbó, olodum… nossa riqueza musical é infinita.”

Essa brasilidade aparece em diversos momentos do disco, como na faixa “O Nosso Rap”, parceria com MV Bill. “Eu mandei um áudio pro Bill e ele entendeu outra coisa, acabou escrevendo um tema que era o contrário do que eu pensava. Mas no final virou uma troca de gentilezas, um falando bem do outro, porque falando mal tem vários”, brinca Thaíde. A música foi produzida por Felipe Mayfield e traz o berimbau como elemento sonoro marcante; o clipe foi gravado na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro.

Em “REP com E”, Thaíde celebra a ancestralidade ao lado da dupla Caju & Castanha, traçando um paralelo entre o rap e o repente, evidenciando o caráter oral, popular e periférico das duas expressões artísticas.

A mente aberta de Thaíde

O disco também é um laboratório para Thaíde experimentar novas linguagens. Em “Meu Nome Não É Xande”, ele se aventura, pela primeira vez, no samba — gênero que tratou com o devido cuidado. “Minha preocupação foi não soar oportunista. Assim como o título do disco, essa música foi ideia da minha esposa, que viu a minha irritação de ser confundido com o Xande”, conta, bem-humorado. Para realizar a faixa, contou com a orientação de Dexter e com a produção de Peu Cavalcante.

Outros momentos marcantes incluem “After Party”, em clima de celebração, gravada com Ana Preta, Arnaldo Tifu e Maloqueiro Anônimo, e “O Melhor”, em que Thaíde reflete sobre a vaidade na cena: “Ser o melhor é solitário. Prefiro estar entre os melhores”. Ainda há espaço para a afetividade, na faixa romântica “Te Amo”, gravada com Fat Family.

O lançamento de Corpo Fechado, Mente Aberta não é apenas um novo capítulo na carreira de Thaíde — é a reafirmação de um legado que segue vivo, pulsante e relevante. “Quando falavam que dançar break era coisa de maloqueiro, a gente estava lá. Hoje, virou esporte olímpico”, reflete.

Ainda que esteja no topo do Olimpo do rap brasileiro, seus sonhos permanecem os mesmos: seguir com saúde, conquistar mais coisas com seu trabalho e, sobretudo, manter viva a cultura que abriu sua mente quatro décadas atrás. “Eu trato o rap com muito respeito. Foi uma cultura que me tirou de um buraco que eu nem imaginava. Por isso sigo fazendo música com o meu estilo.”

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