“Sangue!”, gritam os jurados quando um MC supera todas as expectativas numa batalha de rima. Mas no universo do rapper Xamuel, essa palavra vai além do ritual de vitória nas arenas da rua: ela é identidade, cicatriz e manifesto.
Em seu primeiro álbum, SANGUE, lançado no último dia 20 de Março, o artista não apenas apresenta sua obra mais pessoal até aqui — ele abre um novo ciclo. Com a visceralidade de quem já foi subestimado, o disco traduz um momento de afirmação e liberdade criativa.
SANGUE é um álbum-conceito construído em camadas. A jornada sonora se desenvolve como uma narrativa progressiva, que começa com leveza e desemboca numa estética densa, quase teatral. Tudo é pensado: da produção assinada por Portugal, Neobeats e Caetano, até o visual sombrio que acompanha o lançamento. Mais do que uma coletânea de faixas, o disco é um grito artístico: contra as críticas, contra os rótulos, e principalmente, contra os limites que tentaram impor à sua arte.
“Esse álbum é meu sangue, minha história e minha verdade. Sempre me cobraram por escolhas estéticas e artísticas, mas aqui eu mostro que cada detalhe tem um propósito”.
Inspirado pela figura do bobo da corte — personagem historicamente subestimado, mas capaz de criticar a nobreza com humor e sagacidade —, Xamuel veste essa máscara com a intenção de provocar e, ao mesmo tempo, refletir. O personagem é metáfora de sua própria trajetória: alguém que vem da margem, mas domina o jogo com inteligência, arte e coragem.
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Do hobby ao grito de guerra
Xamuel começou a rimar como um escape. Era hobby, era fuga. Hoje, é o centro da sua realidade. “O rap pra mim é tudo. É o lugar onde eu posso ser, o lugar onde eu posso me expressar”, define em entrevista ao TMDQA!. “Uso essa ferramenta pra fazer outras pessoas serem elas também. Através do rap e do que ele proporciona.”
Esse amadurecimento artístico fica evidente no álbum. Se no início da carreira ele evitava falar sobre sentimentos, agora o rapper se entrega de forma profunda.
“Antes, eu abordava assuntos mais rasos. Mas quando me descobri como esse artista que consegue se expressar sem medo de ser quem é, percebi que era isso que eu queria colocar dentro do disco.”
Com participações de PK e nomes emergentes da cena, além da faixa-título que reúne mais de 20 compositores das batalhas e instrumentistas de rua, o projeto tem um caráter quase documental. É como se Xamuel reunisse vozes da periferia para compor um só grito.
O estúdio, a rua e o futuro
Essa fusão entre o mundo das batalhas e o estúdio é uma marca registrada de sua trajetória. O rapper transita entre os dois universos com naturalidade — e com isso, encontra um equilíbrio criativo único.
“A batalha é um lugar mais agressivo, o estúdio é mais introspectivo. Mas os dois são complementares. Na batalha, você se expressa com força. No estúdio, você pode ser mais frágil, mais você mesmo. E os dois te preparam pro palco, que é onde você expressa tudo isso artisticamente.”
Ao lançar SANGUE, Xamuel também lança um olhar sobre sua própria história. O disco responde às críticas que o acompanharam desde o início — muitas vezes por ousar ser diferente. Para ele, esse enfrentamento foi inevitável. Mas ao mesmo tempo, é algo que não quer mais carregar como fardo.
“O álbum responde muita coisa. Mas é uma pergunta que vai me seguir pela vida. E tá tudo bem. O importante é que agora eu não faço meu trabalho pra responder, mas porque é o que eu amo fazer.”
Se SANGUE é o grito antes da batalha, é também o ponto final de um capítulo. Com esse disco, Xamuel quer se libertar da imagem limitada de “MC de batalha” e abrir novos caminhos. Para ele, esse projeto marca o fim de um ciclo de críticas e julgamentos — e o início de uma nova fase, mais plena e consciente de sua arte.
“Eu acredito que eu quero seguir em frente. O álbum Sangue é muito isso, é fechar esse ciclo, tanto o ciclo de ser conhecido apenas pelas batalhas, como o ciclo de ser muito criticado. Eu acredito que são fases que eu já passei na minha vida e chegou no momento de seguir em frente. Então, o sangue para mim é isso, é um fechamento de ciclo. E no momento que eu tenho minha carreira, é o momento de seguir em frente, de iniciar novos ciclos.”
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