O rapper Filipe Ret nunca teve medo de recomeçar, nem de encerrar. Em Nume Epílogo, o artista carioca dá forma a um novo desfecho para a trilogia iniciada com Imaterial e Lume, encerrada, em teoria, com o aclamado Nume, lançado em 2024.
Agora, com oito faixas inéditas, Ret amplia o universo conceitual de sua última fase e entrega uma obra que não só reforça os pilares filosóficos do projeto, como também revela camadas íntimas de seu presente: um artista no auge, mas ainda inquieto.
“Estou numa fase bem estruturada na vida onde consigo focar mais na música”, explica Ret ao TMDQA!. “Quando estou sem lançar nada, minha cabeça amplia musicalmente e sinto a necessidade de colocar isso pra fora.” Segundo ele, Nume Epílogo nasce dessa maturidade, de quem não precisa mais provar nada, mas escolhe dizer mais. E diz com clareza, força e intenção.
De volta às origens
Logo na faixa de abertura, “KGL’s”, Ret revisita suas origens nos bairros do Catete, Glória e Lapa, berço da sua caminhada e de parte da história do rap no Rio. Ao lado de BK’ e Sain, o rapper transforma o território em testemunha viva de sua trajetória. “Essa faixa é simbólica, por que minha arte se conecta com os muros do meu bairro”, diz. “O Sain e o BK’ são expoentes do bairro e foi muito foda criar essa atmosfera.”
A conexão com o passado segue em “Canto Alto”, reencontro musical com Daniel Shadow, mais de uma década após o clássico Vivaz. A parceria, que surgiu de forma espontânea, remexe na memória afetiva dos fãs e do próprio artista. “É um encontro muito marcante, porque rolou na época do meu aniversário. Ter esse reencontro musical é muito incrível.”
Diferente de Nume, um disco completamente solo, o Epílogo abre espaço para outras vozes. Alee chega em “Grama Verde”, enquanto Maru2D e Orochi aparecem em novas versões de faixas já conhecidas: “Acima de Mim Só Deus e “Emoções”.
“Eu sou desapegado com a música, então consigo ter uma visão mais ampla sobre minhas músicas”, conta Ret. “Já existia a vontade de colocar a Maru na primeira versão, mas o conceito do álbum era não ter feats. Já o Epílogo não tem essa preocupação.”
As skins de Filipe Ret
A estética sonora também experimenta. Em “Absolvido Por Deus”, o rapper abandona os beats eletrônicos e rima sobre uma base orgânica, com guitarra, baixo e bateria — e participação de Heitor Gomes, ex-Charlie Brown Jr., banda da qual Ret é fã declarado. É uma das faixas mais ousadas do disco, e encerra o projeto com a frase: “Se tiver que voltar pro início faço tudo de novo.”
Não é uma despedida, mas um recomeço. Nume Epílogo funciona como transição e celebração. “Esse disco permite que eu faça uma turnê, porque quando lancei Nume eu estava na estrada com os shows do FRXV“, conta. A turnê, que marcou os 15 anos de carreira do artista, levou mais de 1,5 milhão de pessoas aos shows e gerou um álbum ao vivo com nove certificações.
Ret segue como o rapper mais ouvido do país em 2025, com 8,5 bilhões de plays acumulados nas plataformas digitais. Nume, lançado no fim de 2024, ultrapassou os 200 milhões de streams e também conquistou três Certificações de Platina.
Mas, mais do que os números, Nume Epílogo é sobre consistência artística. Ret fecha um ciclo sem abrir mão da ousadia — como quem olha para trás com gratidão, mas caminha em direção ao novo. “Existem várias ‘skins’ do Ret. Um artista sem várias camadas se torna muito restrito e pouco profundo. É dessa forma que enxergo minha carreira e o futuro dela: ser ousado e continuar nessa busca.”
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